quarta-feira, 20 de abril de 2016

Sobre o momento atual brasileiro


Algumas pessoas vieram comentar comigo sobre a minha posição sobre o momento atual da política brasileira, já que tenho postado alguns textos e eu me senti compelida a fazer algumas considerações. Minhas postagens não têm a ver com posições políticas. O impeachment pra mim é um problema pequeno. Não gosto dessa briga de torcidas e nem de criticar legendas. Alimentar essa rixa por meio de post provocativos no Facebook não nos levará a nada. Estamos passando por um grave momento na política brasileira. A realidade é que estamos sem governança. Minhas considerações, no entanto, vão muito além disso. Tenho procurado ponderar com serenidade, sem extremismos. Para mim, o ponto mais importante nesse processo foi a exposição de nossa classe política, mostrando sua verdadeira cara. A amostragem que tivemos do corpo político que nos representa foi estarrecedora, já que o cenário era de uma feira com pessoas despreparadas, algumas sem a mínima instrução e discursos totalmente irracionais. Reconheço minha parcela de culpa nisso, pois, nunca dei muita importância ao meu voto para Deputado. As aberrações que vi na Câmara me fizeram pensar em vários fatores que colaboram com essa situação e permitem que o problema se perpetue: 1) o que sustenta essa situação é o nosso sistema eleitoral. Eu mesma nunca fiz um estudo detalhado sobre os candidatos a deputados, sempre foquei minha atenção para a eleição do cargo principal do momento.
Sobre o episódio atual, há quem diga que aqueles deputados foram eleitos pelo povo e por isso possuem respaldo para tomar decisões em nome dele. Não é bem assim. Daqueles 513 deputados da Câmara somente 36 foram eleitos pelo voto nominal direto. Os outros, foram conduzidos aos cargos por meio de um sistema, alvo de diversas críticas, chamado sistema proporcional, que leva em conta o quociente partidário e o eleitoral. Esse sistema, que não é nada democrático, permite, por exemplo, que haja os puxadores de votos que são aqueles candidatos que por terem sido muito bem votados conduzem ao cargo outros que não foram bem votados (temos como exemplo o Russomanno e o Tiririca que elegeram juntos 6 ou 7 candidatos que não tinham tido votação expressiva)e ainda há aqueles que são conduzidos ao cargo por conta dos votos para as legendas do partidos. Acho primordial uma reforma no sistema político brasileiro e é fundamental uma participação massiva da sociedade com a finalidade de cobrar essa mudança. Uma reforma significaria o início da eficiência nas governanças. Penso que adotar o sistema majoritário (ganha quem tem mais voto) como nas eleições para prefeito, governador e presidente me parece mais sensato e transparente. Claro que com isso muitos partidos pequenos com poucos candidatos poderiam ficar sem representação, e daí? Para quê tanto partido? Precisamos é de gente que represente o povo e que efetivamente garanta a apresentação e aprovação de projetos em prol da melhora efetiva da educação e da saúde, dois itens importantíssimos da pauta de todos os governos e que ficam sempre marginalizados, esquecidos. E por que até hoje em nenhum governo esses dois problemas não foram resolvidos? porque nós ficamos sempre à margem do governo sem cobrar compromissos de campanha e os nossos representantes são do tipo desses que vimos. Os que se salvam não têm força, diante de tanta aberração, para propor e aprovar projetos. Alguém viu sensatez na maioria deles? A maioria é alvo de processo outros são investigados por corrupção.
2) Outro fator que colabora para que aquela aberração de gente despreparada se eleja é o financiamento das campanhas. É preciso estipular uma regra mais transparente para as doações de campanha, explicitando-se qual é o interesse por trás de cada doação. São os pactos estabelecido por ocasião dos financiamentos de campanha que não permitem, por exemplo, que eles aprovem a reforma tributária, porque as “doações” se inscrevem num registro de troca interessada. O sistema funciona de uma maneira tão emaranhada que tudo fica interligado de maneira que as bancadas não têm como votar nada contra o empresariado patrocinador. 3) É preciso considerar ainda a questão da propaganda política e do espaço dado a cada partido para cada candidato, é ridícula a maneira como é distribuído o espaço para propagada nos veículos de comunicação. Em partidos menores mesmo que haja alguém verdadeiramente competente e com vontade de trabalhar, mal terá espaço para dizer seu nome e número. Os partidos maiores com seus candidatos veteranos sempre têm mais espaço. Esse sistema permite que quem está no poder sempre se mantenha. Já notaram como há candidatos que se elegem em todos os pleitos e já estão há vinte anos no poder? Claro, nenhum quer perder suas mordomias. E sabemos o quanto é caro para a sociedade manter um político.
Eu gostaria muito de não pensar tanto e acreditar que essa situação que se impôs com a queda da presidente resolva os problemas políticos que possuímos, só que não. É certo que a crise econômica em que estamos nos colocou nessa situação, pois o povo indignado, e com razão, escolheu esse procedimento de impedir a presidente. No entanto, acho que o país só melhorará quando retirarmos a política das mãos dos políticos, quando a tivermos em nossas mãos por meio de uma participação mais efetiva nas decisões, não simplesmente votando o impeachment, mas sendo bem representados e sempre fiscalizando.

Quanto anos tenho? de José Saramago

Tenho a idade em que as coisas são vistas com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam trocar carinhos com os dedos e as ilusões se transformam em esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma chama louca, ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão desejada. E em outras, uma corrente de paz, como um entardecer na praia.
Quantos anos eu tenho? Não preciso de números para marcar, pois meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho, ao ver meus sonhos destruídos…
Valem muito mais que isso.
 Não importa se faço vinte, quarenta ou sessenta!
O que importa é a idade que eu sinto.
Tenho os anos de que preciso para viver livre e sem medos. 
Para seguir sem medo pelo caminho, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus anseios.
Quantos anos tenho?  Isso não importa a ninguém!
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.

outono: a estação mais linda

Adoro a sobriedade do outono, momento em que há um perfeito equilíbrio da natureza e no qual ela se prepara para se renovar; momento em que há fartura de frutos e as folhas das árvores ficam douradas, preparando-se para cair e formar um lindo tapete amarelo. Não fosse a dureza do asfalto, serviriam de adubo para o fortalecimento das raízes, pena que acabam obstruindo os bueiros, mas não é culpa delas. A natureza é sábia, tolo é o homem. Essa estação da renovação, nos convida à troca e ao amadurecimento. Período de esperança e de recomeço, de transição e aconchego.
Renovar é ter coragem para mudar velhos hábito, abrir mão de comportamentos repetitivos que impedem nosso crescimento e amadurecimento. Todos precisamos de um tempo de reflexão, necessário tanto para implementar mudanças como para reafirmar nossos conceitos e nossa maneira de agir. Assim, estaremos prontos para receber a nova estação, começar um novo ciclo. Como a natureza, acho que todos nós deveríamos dividir nossas vidas em fases, fica mais fácil de administrar nossos medos e dúvidas, os momentos parecem menores, dessa forma, quando estivermos num momento ruim, saberemos que estaremos em uma fase, e diremos: logo passará; se estivermos num momento de grande felicidade, diremos: quero preservar esse momento para que seja ainda melhor, na próxima fase.

Pensar a vida como um gigantesco tapete sem cor, faz com que não tenhamos controle sobre ela. Reflitam sobre isso.

quarta-feira, 2 de março de 2016

haikais

E deixava o mar
a canoa de saudade
amor que ancorava

                           Inverno no peito
                           mas a primavera sorri
                           só a dois passos

Sede saciada
presente do teu corpo
que me encantaria

                              Neva lá na serra
                              aqui só chove desamor
                              quanta aflição

                                                      Restava um dia
                                                      pra convencer o coração
                                                      prazo esgotado

   Tamborilo notas
   e não ouve a música
   não tem coração


                                                                     Na estrada triste
                                                                     lá está meu coração
                                                                     abatido, tão só

                            O coração pede
                             a razão não dá ouvidos
                             temporais da vida

                                                Um tanto devassa
                                                abandonei meus pudores
                                                e anoiteci nua

não era assobio
eram grilos que criquilavam
rompendo o silêncio

aprenderemos juntos

E porque sempre darei o melhor de mim, estarei em paz com meu coração e tudo estará em equilíbrio. O meu amor por você será justo. Vamos fazer planos e realizá-los juntos. Encontraremos juntos, um caminho para seguir e eu abrirei mão de alguns dos meus sonhos e você de alguns dos seus. Conheceremos muitos lugares bonitos e pessoas alegres que nos darão ainda mais momentos de prazer. Conversaremos sobre os nossos desejos e daremos prazer um ao outro. Seremos cúmplices, companheiros, mas cada um poderá ficar um tempo sozinho, se quiser, pra nunca descuidarmos de nós mesmos. Dividiremos as tarefas do dia a dia e teremos nossos segredos. Eu poderei ouvir aquela sua música favorita, mesmo que eu não goste e você lerá de vez em quando um poema meu. Cantarei uma música pra você e nem perceberá que desafino. Vou lhe perdoar se estiver de mau humor e espero que me perdoe quando eu estiver cansada, desanimada, precisando dormir. Prometo respeitar o seu espaço e os seus medos e seus gostos e seus sabores. Eu ouvirei seus problemas e lhe confortarei com um beijo e uma taça de vinho. Transformaremos os nós em laços. Vou lhe fazer rir de si mesmo e de mim também. Vez ou outra, quando eu estiver sozinha vou lhe mandar uma mensagem de amor, que você também o faça. De vez em quando, farei seu prato preferido, espero que também me surpreenda com algo que eu gosto. Eu vou estar sempre presente, mas estarei ausente, quando preferir. Serei eu mesma, mas sempre haverá um banco de jardim em que poderei me sentar ao seu lado para ouvir, ou ficar em silêncio. Eu regarei o amor todos os dias e serei forte quando a tempestade chegar, pois estarei pronta para secar suas lágrimas, num momento de dor. Também choraremos juntos de alegria. Capricharei sempre no visual para você sentir cada vez mais orgulho de estar ao meu lado. Nunca deixarei de comemorar suas vitórias, orgulhosa de seu sucesso. Espero que você vibre com as minhas também. Num dia, dançarei com você, no outro dançarei só pra você, sem ninguém mais por perto. Acreditarei na sua força e na sua coragem e se essa lhe faltar, estarei lá com um carinho pra não lhe deixar cair. Se eu desanimar, seja paciente e generoso, me ajude a me levantar. Eu jamais serei perfeita, espero que você também não seja. Peço que sempre me ensine algo, pois também tenho coisas para ensinar. Aprenderemos juntos. Será um bom começo, quando, enfim, nos encontrarmos.

sobre a casa que habita em mim (ref. à Mia Couto)

Minha infância foi muito simples. A casa era simples, quase não tinha móveis. A cozinha era grande, fogão à lenha, panelas de barro. As crianças de hoje nem imaginam o que é viver assim, sem recursos, roupas simples, de pé no chão de terra batida. Ao cair da noite, o luar sempre nos presenteava com seu azul; vagalumes também coroavam a noite e as cantigas de roda eram acompanhadas por sons de grilos e cigarras. Fui feliz, criada com muito amor. O que meus pais puderam me oferecer, foi o que havia de mais valioso neles: valores como humildade, lealdade, respeito, generosidade e coragem. Foi por causa deles que venci e conquistei vários dos meu sonhos. Quando adolescente, fazia planos, mas nunca quis muito. Queria o que não tinha tido: uma casa bonita, bem decorada, aconchegante, confortável; um bom emprego, uma boa formação, um carro. Desejos de toda jovem sonhadora. Graciosamente, a vida me presenteou com todos eles. Não foi sorte. Eu batalhei muito pra conseguir. A vida nem sempre foi fácil. São esses os valores que transmito a meus dois filhos. Realmente, não importa a casa onde moramos e nem é ela que molda o nosso caráter. A casa que habita em mim hoje é essa composição de lembranças e realizações, de reconhecimento pelos alicerces que moldaram não só a minha casa hoje, mas a minha vida, o meu caráter. É isso que eu sou: uma mistura de tudo que não tive e de tudo que conquistei. Com muito respeito a cada etapa, meu coração abriga gratidão pela estrada que percorri e pela que ainda percorro, porque nunca parei de sonhar... ainda tenho muito pra conquistar e a vida, generosamente, vai me oferecer mais.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

a sociedade está doente

E o ano de 2015 terminou assim: triste e feio como começou e alguns membros da sociedade mais podres, mais descartáveis.

No dia 31, enquanto eu lia a notícia sobre o assassinato do menino Kaingang de apenas dois aninhos, não pude conter as lágrimas que incessantemente rolaram. Entristece-me demasiadamente saber que uma pessoa que não pode e não deve ser chamado de humano, seja capaz de praticar um ato tão frio, covarde, insano, irracional como esse. Eu tentei, sem sucesso, me colocar no lugar daquela mulher que, enquanto exercia o seu momento de maior plenitude na tarefa de ser mãe, a amamentação, teve a infelicidade de ver o seu filho sendo degolado sem chance de defesa e sem motivo que justifique tamanha crueldade.

Fiquei procurando motivos e argumentos para escrever algo sobre o assunto, mas um vazio tomou conta de mim. Eu me senti à beira de um abismo olhando para baixo e para a frente e não via nada. Minhas palavras ficaram sem rumo.

Não se trata aqui de procurar identificar a vítima como índio e, à vista disso, justificar a falta de importância que a notícia teve na mídia, não se trata de tentar justificar tamanha covardia respaldada por um pensamento de se sentir mais importante e com mais direito de viver que uma criança índia. Parece vazio ficar repetindo que se trata de um crime praticado por intolerância, por racismo, por maldade. Já sabemos os motivos.

Trata-se mais de tomar consciência de que a sociedade brasileira está terrivelmente doente. Trata-se da doença da má criação, da má educação, que vem gerando gente mal formada, mal criada, mal amada, mal resolvida.

O sociólogo e psicólogo social Durkheim afirma que o ser social é formado pelas consciências individual e coletiva e a consciência coletiva é uma combinação das consciências individuais de todos os homens, bem, sendo assim, a meu ver, estamos todos perdidos, estamos no centro de uma catástrofe social, possuímos uma contagiosa doença terminal.

Atos de crueldade como esse denotam um estado de patologia social associado, provavelmente, à falta de valores e de regras e de um punhado de bom senso e de razão.

Não se trata mais de desejar que todas as pessoas cultivem o amor, vivam em harmonia e busquem aperfeiçoar a sua insignificante condição de humanos, isso só se pode compartilhar com pessoas que se espera queriam se manter sãs. Trata-se agora de fazer a sociedade recuperar a razão. Estamos mergulhados profundamente num estado de depressão e esquizofrenia social.

Ainda segundo Durkheim, em uma sociedade sadia os indivíduos devem se sentir “seguros, protegidos e respaldados”. Há muito tempo a sociedade brasileira sofre com os desmandos e descasos do governo e da instabilidade econômica e social. A falta de proteção às instituições básicas: família, trabalho, educação e saúde, ocasionaram com o tempo um desequilíbrio do organismo da sociedade e esta, doente, manifesta suas sequelas na forma de assassinatos, revoltas, violação das leis, das regras, dos limites e do bom senso que deveria nortear a vida em sociedade.

A patologia se instalou porque o governo, omisso, não vem exercendo nenhuma forma de controle efetiva, assim, o organismo social agoniza. A luta que temos de travar é individual. Que não nos falte paciência e otimismo e que nos sobre coragem e amor para lutar e para mudar o pensamento social. Assim, em conjunto, recriaremos uma sociedade que reflita valores mais justos, mais racionais. Até adquirirmos essa consciência é triste saber que derramaremos ainda muitas lágrimas, por indiozinhos indefesos, por moradores de ruas, por crianças abandonadas, por homens sem teto e sem trabalho, por humanidade.