quarta-feira, 2 de março de 2016

sobre a casa que habita em mim (ref. à Mia Couto)

Minha infância foi muito simples. A casa era simples, quase não tinha móveis. A cozinha era grande, fogão à lenha, panelas de barro. As crianças de hoje nem imaginam o que é viver assim, sem recursos, roupas simples, de pé no chão de terra batida. Ao cair da noite, o luar sempre nos presenteava com seu azul; vagalumes também coroavam a noite e as cantigas de roda eram acompanhadas por sons de grilos e cigarras. Fui feliz, criada com muito amor. O que meus pais puderam me oferecer, foi o que havia de mais valioso neles: valores como humildade, lealdade, respeito, generosidade e coragem. Foi por causa deles que venci e conquistei vários dos meu sonhos. Quando adolescente, fazia planos, mas nunca quis muito. Queria o que não tinha tido: uma casa bonita, bem decorada, aconchegante, confortável; um bom emprego, uma boa formação, um carro. Desejos de toda jovem sonhadora. Graciosamente, a vida me presenteou com todos eles. Não foi sorte. Eu batalhei muito pra conseguir. A vida nem sempre foi fácil. São esses os valores que transmito a meus dois filhos. Realmente, não importa a casa onde moramos e nem é ela que molda o nosso caráter. A casa que habita em mim hoje é essa composição de lembranças e realizações, de reconhecimento pelos alicerces que moldaram não só a minha casa hoje, mas a minha vida, o meu caráter. É isso que eu sou: uma mistura de tudo que não tive e de tudo que conquistei. Com muito respeito a cada etapa, meu coração abriga gratidão pela estrada que percorri e pela que ainda percorro, porque nunca parei de sonhar... ainda tenho muito pra conquistar e a vida, generosamente, vai me oferecer mais.

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