Minha infância foi muito simples. A casa era simples, quase
não tinha móveis. A cozinha era grande, fogão à lenha, panelas de barro. As crianças
de hoje nem imaginam o que é viver assim, sem recursos, roupas simples, de pé
no chão de terra batida. Ao cair da noite, o luar sempre nos presenteava com
seu azul; vagalumes também coroavam a noite e as cantigas de roda eram
acompanhadas por sons de grilos e cigarras. Fui feliz, criada com muito amor. O
que meus pais puderam me oferecer, foi o que havia de mais valioso neles:
valores como humildade, lealdade, respeito, generosidade e coragem. Foi por
causa deles que venci e conquistei vários dos meu sonhos. Quando adolescente,
fazia planos, mas nunca quis muito. Queria o que não tinha tido: uma casa
bonita, bem decorada, aconchegante, confortável; um bom emprego, uma boa
formação, um carro. Desejos de toda jovem sonhadora. Graciosamente, a vida me
presenteou com todos eles. Não foi sorte. Eu batalhei muito pra conseguir. A
vida nem sempre foi fácil. São esses os valores que transmito a meus dois
filhos. Realmente, não importa a casa onde moramos e nem é ela que molda o
nosso caráter. A casa que habita em mim hoje é essa composição de lembranças e
realizações, de reconhecimento pelos alicerces que moldaram não só a minha casa
hoje, mas a minha vida, o meu caráter. É isso que eu sou: uma mistura de tudo
que não tive e de tudo que conquistei. Com muito respeito a cada etapa, meu
coração abriga gratidão pela estrada que percorri e pela que ainda percorro,
porque nunca parei de sonhar... ainda tenho muito pra conquistar e a vida,
generosamente, vai me oferecer mais.
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